Crônica do Amor
Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros,
revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas
sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.
É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial
de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo,
bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e
seu fettucine ao pesto é imbatível.
Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo.
Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?
Ah, o amor, essa
raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática:
eu linda + você inteligente = dois apaixonados.
Não funciona assim.
Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC.
Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.
Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons
motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!
Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é!
Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior
de quem precisa.
(Arnaldo Jabor)
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